Uma jornada de bike ultrapassa barreiras inesperadas

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Franciele Tais, 26 anos resolveu sair da cidade onde morava, Timbó e seguir de bike por estradas, deserto e serras. No caminho ela encontrou muitas pessoas amigas, outras nem tanto.

Desfrutou da solidariedade de estranhos; sentiu fome, sede; granizo, chuva e sol forte. Teve vontade de desistir frente aos obstáculos mais difíceis, mas devido sua determinação conseguiu experimentar a maravilhosa sensação de ultrapassar situações difíceis e sentir o gostinho da vitória.fran foto1

Conquista

Uma conquista que não tem pódio, pois a única vencedora é ela mesmo.

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Na verdade ela nunca imaginou viajar de bicicleta. Passava por um momento delicado na minha vida pessoal, sobre a qual precisava refletir. Aquele momento de questionamentos sobre tudo. Após  quatro dias de ter deixado o emprego ela estava decidida: quero viajar!

O relato de experiências inimagináveis

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“Comecei a buscar trabalhos voluntários em Argentina, assim quando chegasse a uma cidade já teria onde ficar e trocaria trabalho por comida e hospedagem. Tinha umas amigas que queriam fazer algo parecido mas estavam planejando para uns três meses pra frente. E eu não, eu quero ir agora, já.

Por casualidade vi que um conhecido argentino tinha publicado fotos da sua cidade e fui falar com ele. Naquela madrugada ele me contou que estava organizando uma viagem de bicicleta com uma amiga. Na hora meus olhos brilharam e eu disse quero ir também.

Dois dias depois já tinha meu voo comprado pra Argentina. Comuniquei para minha família e amigos. Todos pensavam que eu estava louca, e isso que nem sabiam que era de bike que eu ia viajar kkkkk, foi muito engraçado. Só meu amigo-irmão Manny sabia e ele por mais que achasse loucura me apoiou desde o início.

Em menos de 15 dias eu já estava na Argentina. Sem falar uma palavra em espanhol e com uma mochila com quatro mudas de roupas.

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Foi tudo muito rápido, não parei para pensar em nada. Quando eu tomo uma decisão nada me freia..

Meus pais me diziam: como você vai viajar, sem dinheiro, outro país, você nem fala o idioma, nem conhece direito as pessoas que te esperam lá, e se acontece alguma coisa?  E fizeram mais uma infinidade de perguntas, que eu não me fiz em nenhum momento. Na minha cabeça a única coisa que vinha era aproveitar a oportunidade. Não importava que era de bike e nem bike eu tinha, não importava o idioma, pois eu sei que ia me comunicar de alguma maneira, não importava a falta de dinheiro. Eu ia dar um jeito.

Foram poucos dias mas dias de desapego. Minha cachorra Kate que foi o que mais me doeu. Meus amigos, a família, minhas roupas, minha casa”.

Quando cheguei na Argentina tive cinco dias para comprar uma bike velha, umas poucas coisas necessárias e pronto. Tudo preparado para viajar.

Os primeiros dias foram difíceis. O assento sempre foi incômodo pra mim por isso nunca curti muito a magrela.

Dias de vento contra, subida e muiiito calor, assim começamos a viagem. Alguns amigos que nos ajudaram com a bike nos acompanharam os dois primeiros dias.

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No primeiro dia depois do pedal. Das quatro mudas de roupa se reduziram a três rsrs.

Eu estava num mundo totalmente diferente, um mundo que nem imaginei que pudesse existir. As pessoas pela rua nos aplaudiam, vinham conversar com a gente, nos convidava para um prato de comida, batiam fotos. Nos levavam para suas casas para passar a noite ou para jantar. Era tanta coisa boa acontecendo, estava nostálgica porque meu.. como assim? Vão levar uma desconhecida pra casa, alguém que conheceu na rua em cinco minutos de conversa.

Era tão lindo escutar as crianças falando outra língua, tão lindo receber apoio e carinho de pessoas que você nunca viu na vida.

As dores do pedal não eram nada perto de tudo que estava acontecendo.

Saía para pedalar e pensava: o que será que vai acontecer hoje? Quem será  que vamos conhecer?

Era demais.. foi fácil aprender gostar das jornadas de pelo menos 5h de pedal, “faça sol ou faça chuva”

Quando saí, embarquei numa viagem dos meus colegas, não minha. Quando fui só fui. Não sabia onde queria ir, o que queria conhecer, só fui.. com o passar dos dias, com outros viajeiros que ia conhecendo e tudo que estava aprendendo sobre viajar. Fui fazendo meus planos, e depois de alguns meses, cada um dos três tomaram caminhos diferentes.

As coisas de fato, foram muito mais fáceis que eu pensei. Tem muita treta e perrengue pelo caminho, mas eu sempre acreditei que ia dar um jeito em tudo.Já vendi cucas e brigadeiro nos parques, troquei trabalho por hospedagem e comida. Trabalhei em bares como garçonete e que me deu o suficiente para comprar tudo novo, inclusive uma bike, e fazer o “pé de meia” para seguir viagem.

Cruzei o deserto mais árido do mundo sozinha. Foram seis horas de ida em caminhão e seis dias de volta em bicicleta.

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Cruzei a Cordilheira dos Andes, desertos intermináveis. Toquei a neve pela primeira vez e vi um glaciar que em poucos anos deixará de existir. Conheci a cidade mais antiga das Américas com mais de 5 mil anos e muito mais.

Já pedi comida em restaurantes, já pedi frutas e verduras em mercados municipais.

Já montei minha barraca em postos de gasolina, igrejas, escolas, já dormi num cemitério, dentro de uma ambulância, em carga de caminhão, quartéis de bombeiros já perdi as contas, em Prefeituras também, muitas casas de famílias e também em parques. Já tive a sorte de descansar em ótimos hotéis e de frente ao mar, sem pagar nada. Ja me deram dinheiro também..

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Sabe? Não se tem luxo nenhum, mas é tão prazeroso viver em um mundo diferente todos os dias. Os contrastes de um dia estar com uma família super humilde que nem banheiro tem na casa e no outro tu estar com uma família que tem todas comodidades do mundo.

Viver o dia a dia do povo local, os costumes, a comida, escutar a história do seu país por eles mesmos. Não tem nada a ver com essas viagens que geralmente fazemos nas férias, que vamos com dinheiro para comer num bom restaurante, ficar num bom hotel.

Poderia escrever uma Bíblia de benefícios que encontrei nesse estilo de viagem que hoje prefiro dizer que já se tornou um estilo de vida.

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Levei dois anos e dois meses e pouco mais de 12.500 km de puro pedal, mais umas caronas e ônibus.

Também quando possível a Treme Terra de Timbó me ajudava financeiramente. O Barreto bikes que me mandou peças de reposição para bike, entre outras coisas e às vezes algum amigo colabora com algo também.

Passei por momentos desagradáveis. Fui roubada duas vezes. Na primeira recuperei tudo. Tiraram as coisas da minha mochila na praia. A segunda já foi de frente. Parei para olhar o mapa ao sair da cidade e um moleque levou meu celular e um dinheiro de duas semanas de trabalho.

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Meus pedidos e agradecimentos diário são pedir proteção ao Pai para que possamos chegar bem ao nosso destino. E agradecer por mais um dia de vida”.

 

http://blog.tremeterra.com.br/2017/12/04/1314/
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