A Saga de Fran (2) – histórias incríveis de uma viagem de bike

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Em continuação as histórias da viagem da timboense, programadora de produção e tecnóloga em Processos Gerencias, Franciele Tais e sua bike, vamos para mais um texto. Quem quiser saber como tudo começou as incríveis histórias da Fran, tem a primeira parte neste blog.

“VAMO MÃE LOIRA, VAMO QUE TU PODE!

Me emociono tentando descrever essa travessia.

Na fronteira encontrei com outro casal de brasileiros que me pagaram uma refeição e também pagaram o “aluguel” de um chuveiro com água quentinha.

À noite, montei minha barraca em uma casa em construção. “Fui dormir em 2016 e quando acordei já era 2017” (hahahaha)

“E por ironia do destino” no segundo dia que havia saído da fronteira, já eram quase 20h. Em ruta Argentina  tive que pedir carona, escurecendo, o vento não me deixou avançar como o “calculado” e ali estava eu. No meio do nada,  frio em demasia e sem comida, pois havia planejado chegar a um povoado e também na fronteira era o local de abastecimento para outros dois dias. Não tinha muito que comprar, me confiei no “estoque” que eu tinha e não foi o suficiente.

O caminhoneiro que me levou os 15 km que faltavam, era o dono da casa, na qual eu passei a noite no dia 31.

Como descobri? (Hahaha) Inocente estava contando sobre os campings desse caminho e que na fronteira dormi na tal casa em construção atrás do posto de gasolina. Ele sorriu e disse: ah é? Essa casa é minha!

Fiquei sem reação (kkkkk) ele sorriu, e disse tudo bem. Muitos ciclistas que fazem essa travessia dormem ali.

Nesse mesmo caminho, um dia antes, aconteceu algo inédito: pela primeira e única vez até hoje (2018) encontrei um pessoal da minha cidade. Quando vi o carro com placas de Timbó, não podia acreditar. Brasileiros sim, vários, mas da minha cidade e pela carreteira… nossa fiquei de cara (rsrsrs). Claaaro que fiz gestos de todas as maneiras possíveis para que parassem o carro, e ali conversamos por um bom tempo. Não acreditávamos que esse encontro de timboenses estava acontecendo.

No sexto dia, cheguei à cidade de Purmamarca, Norte Argentino. Ali concluía a travessia Paso de Jama. Também dentro do calculado, 6/7 dias.

Nesses dois anos e meio desde que saí, pedalei em média 14.000 KM, mais uns 3 mil de caronas e um e outro ônibus. A rota foi Argentina, Chile, Argentina, Bolívia, Peru, Equador, Colômbia.

 

Muitos lugares diferentes para dormir

Me hospedei e me hospedo com muitas famílias. Algumas por iniciativas delas, outras tantas através das páginas de Couchsurfing e Warmshowers. Outras que são amigos de um amigo e por aí vai. Também algumas vezes faço voluntariados em troca de hospedagem, algumas vezes inclui as refeições também.

Acredito que posso contar nos dedos as poucas vezes que paguei um hostel ou camping.

Já dormi e ainda durmo em lugares inóspitos, inusitados e que NUNCA imaginei fosse acontecer. Mas acredite, viajando acontece.

Escolas, igrejas, prefeituras e albergues municipais. Quartel de bombeiros (com bastante frequência), posto policial, posto de pedágio, deserto, lagunas de origem vulcânica, beira de estrada, carroceria de caminhão, praia, próximo a um vulcão, ambulância desativada, posto de gasolina, mirador, um aparentemente cemitério (chegamos era noite,

 

e quando amanheceu, tinham várias cruzes espalhadas pelos cerros).

 

Também passei uma noite dentro de um restaurante de sal (desabilitado). Em um Centro de Investigação (de Alpacas Huacaya e Sury) da UN de Medicina e Zootécnica do Peru (rsrs). Passei uma noite dentro de um ônibus. E também em um abatedouro (no local apenas o segurança noturno e nós, três ciclistas. Nenhum animal) Casa em construção, depósitos e um lugarzinho no pátio de alguém também entra na lista.

Também em quanto dormia em um polidesportivo, no povoado de Coconuco, fui surpreendida com a chegada do exército às 3h da madrugada. Mais de 30 homens armados, vinham entrando na quadra. Apagaram as luzes, e uns 10 minutos depois quando viram a barraca, vieram com a lanterna e solicitaram que saísse da barraca, com documentos em mãos. Geeeelei hauihsiuahs, saí da barraca, com passaporte em mãos, tirei a lona que cobria a bicicleta e os equipamentos e expliquei a situação.

Conversamos um pouco sobre a viagem e eles me explicavam que estavam chegando ali também para passar a noite, pois no outro dia iam ao campo em conflito indígena.

Quando o sargento falou: bom agora pode voltar a dormir tranquila, pois a área está vigiada. Voltei pra barraca, porque dormir, foi difícil com todo aquele povo armado ao meu redor (rsrs).

Pela manhã, me serviram, café, conversamos por mais de uma hora. Me deram como mantimento para o caminho: café, arroz, feijão, leite em pó e algumas latas de atum.

Muitos contrastes

Num dia estava dormindo em um depósito e no outro dia eu estava em um condomínio beira mar junto a uma família, uma suíte só pra mim e almoços “gourmet” preparado ali mesmo, pela cozinheira da família.

Outra noite, na beira da estrada super transitada que quase não pude dormir, e no outro dia cheguei a um contato da página WS, e me deram uma cabana beira mar em praia particular. Uma semana.

Também já me hospedei com famílias que nem banheiro tinham na casa, por exemplo.

Cada dia é um capítulo! Cada dia um aprendizado. Coisas que só o dia a dia de viageiro, a vivência pode te ensinar.

Nesses pequenos detalhes, que você aprende a valorizar, aquela cama que você tinha em casa, mas achava que o colchão poderia ser melhor, aquele chuveiro quente, mas que a água não era quente o suficiente. Perdi as contas de quantos banhos gelados no inverno, tomei, e de balde. Você aprende a dar valor ao que tem. Por mais humilde que seja você pode sim, fazer algo por alguém, porque isso nasce do coração.

Compartilhei e compartilho com muitas famílias humildes, e aprendo muito deles. A alegria que carregam consigo, pelo que são e não pelo que têm.

Momentos difíceis

Sofri um assédio que não se concretizou (foi por pouco) e fui roubada duas vezes. A primeira recuperei tudo, até o dinheiro. Na segunda levaram o celular, cartão de memória com mais de três mil fotos e vídeos do início da viagem e 200 dólares.

Agradeço a empresa Treme Terra, Imobiliária Central Alternativa, a MZ treinamento funcional e minha amiga Martina que me ajudaram financeiramente para repor outro celular, que é uma ferramenta indispensável pra todo viageiro. E um pouco de dinheiro para poder seguir viagem.

Argentina meu deu um grande irmão o “negro”. E Rosário é uma cidade na qual quero voltar em algum momento.

Nesse país, como nos demais fiz amigos, com os quais tenho contato até hoje. Muitas famílias abriram as portas de suas casas pra mim, e algumas inclusive nem queriam me deixar partir.

Conheci a quebrada de Humahuaca, os cerros de colores. As temperaturas mais altas até mesmo que o deserto. Ruínas. Reserva natural Estero del Ibera, onde avistamos vários tipos de aves, veados, macacos, capivaras, jacarés, tatu, e vários outros animais.

Bañado La Estrella onde acampamos e devido à época de seca, os locais pescavam com as mãos em grandes quantidades. E nós também, peixe para janta, almoço e café da manhã.

Parque Nacional El Palmar

Povoado de Liebig, atualmente com média de mil habitantes, que por meados da década de 80 foi a segunda produtora de carne em lata mais importante do mundo. Chegou empregar 3.500 trabalhadores em um enorme frigorífico, que exportava carnes em lata para os soldados da Segunda Guerra Mundial. Atualmente, as instalações desse frigorífico são utilizadas para turismo local.

Final de 2016,  ainda em San Pedro de Atacama, junto com  a equipe da Treme Terra, que realizava uma expedição em seu motorhome, subimos o vulcão Lascar,  vulcão ativo a 5.600m de altitude.

Ali foi onde iniciamos nossa parceria e hoje são meus patrocinadores!

Graças a essa parceria, as pausas para trabalho são menos frequentes, menor tempo. E também busco opções de voluntariados em alguns casos.

Bolívia, Pedalar nesse imenso deserto de sal (Uyuni, maior salar do mundo). As tradições desse povo, as comemorações em Oruro, acampar na Isla del Sol, abaixo das ruínas, tendo o lago Titicaca a frente. O lago andino é considerado o maior lago da América do Sul, em volume de água, e o lago navegável mais alto do mundo, já que se encontra a 3.812m sob o nível do mar. Foi uma experiência um tanto quanto forte, porém única.

No Peru, pela primeira eu vi um glaciar. Vi neve, pinguins e lobos marinhos. No Norte peruano nadei com tartarugas marinhas.

Conheci um pouco da história e do dia a dia das famílias que vivem em ilhas flutuantes em Puno- Peru, sob o lago Titicaca que é compartilhado entre Bolívia e Peru.

Machu Picchu por supuesto, a cidade sagrada de Caral, a mais antiga das Américas é uma das mais antigas do mundo com 5 mil anos.

No Peru encontrei deserto e mar “juntos”. Voei sobre as linhas de Nazca.

Na reserva de Paracas foi onde voltei a me encontrar com o mar, depois de um ano e oito meses, desde que saí do Brasil.

Senti o vento Paracas, cujo este sopra a mais de 40 km/h, e quando acontece esse “fenômeno”, dizem durar três dias, não sei o motivo, pois no segundo dia fui embora (rsrs). Desafortunadamente, em consequência desse vento, tive que comprar outra barraca. Sim, o vento causou alguns estragos.

No Equador fiz trabalho voluntário, vendi brigadeiros em parques. Tive dois campings dos mais lindos que foi na Laguna Quilotoa, e na Ilha Portete.

Laguna Quilotoa (de origem vulcânica) é a Laguna mais linda que já vi na minha vida! Fui privilegiada em poder ver ela em três tons diferentes devido ao clima.

No Equador também, minha amiga Martina veio passar uns dias de férias, no quais coloquei ela pra pedalar também(rsrsr). Pedalamos juntas por algumas praias na parte sul do país. Também nos hospedamos em casas pela página do CS, acampamos, e também curtimos alguns dias em alguns hosteis. Martina chegou no Equador com mais bagagens pra mim do que dela (rsrs). Barreto Bikes me mandou vários repostos pra minha bike que eu estava necessitando e roupa de ciclismo. A loja Abuzee também me mandou roupas esportivas e confortáveis para o dia a dia (é muita gente envolvida apoiando).

Equador através da página couchsurfing, ganhei um grande amigo. Santiago. Fiquei na casa dele duas semanas. E foi a despedida mais forte e difícil da viagem.

Muitas pessoas pensam que nós viageiros não temos apegos. Na verdade, sim temos bem menos apegos, porém não estamos isentos. Eu tenho apegos, pouquíssimos, mas tenho, e também tenho outros que tenho que aprender a desapegar. A Valentina (minha bicicleta), por exemplo, não empresto “a ninguém” (rsrs). Na casa Jaguar tive que praticar o desapego na “marra” quando decidi seguir pedal.

Já me sentia em casa, os cachorros, a gatica, a energia da casa Jaguar. Seus amigos já eram meus amigos, minhas amigas de viagem, ele hospedou a todas ao mesmo tempo. Casa cheia. Foram duas semanas de muitos sorrisos, tardes de caiaque no rio, dias de muita praia, camping e diversão. Santiago já recebe viageiros em sua casa por mais de cinco anos. E é bastante comum ele encarregar à casa a viageiros em quanto ele também sai para viajar.

Em Mompiche pude avistar baleias desde a areia da praia. Onde eu trabalhava, foi algo mágico.

Na selva equatoriana, provei os espetinhos de larvas. (Gusano chontaduro) que medem em média cinco cm, são gordinhos e dá certo nojinho (kkkk).

Comi na versão” assada, e é parte da alimentação diária desta zona e podem comer crus, assados, inteiros ou sem a cabeça. É estranho, mas gostosinho (auhushuiahsi).

No Parque Nacional Cotopaxi, foi um dos campings que mais tive medo. Pude sentir o ruído do vulcão pela terra, quando me acostei a dormir, além de muito, muito frio. Vulcão estava em estado de alerta.

Também subi o Chimborazo, estrato vulcão e a montanha mais alta do país, onde queimei a retina dos olhos e fiquei com os olhos vendados por quase 48h.

Se eu chorei com medo do dentista… quando queimei os olhos, a dor do dente quebrado “não foi nada”( kkkkkkk).

Colômbia aprendi em um voluntariado um pouco sobre o processo do café, pintei portão,  fiz limpeza de jardim e alguns experimentos com bambu..

Em Cali, ganhei uma mãe. A dona Olga. Mãe da Juli que é mãe da Rayen uma mocinha de cinco aninhos que a conheci quando tinha três, e me enche de alegria só de lembrar dela.

Com Olga, Juli, Rayen compartilhamos dias super agradáveis por algumas cidades aqui da Colômbia.

Conheci a Juli na agência de turismo no Atacama em 2016.

Continua…

http://blog.tremeterra.com.br/2018/04/23/saga-de-fran-2-historias-incriveis-de-uma-viagem-de-bike/
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